Filmes "perversos" de João César Monteiro nos E.U.A

Nova Iorque será a primeira de sete cidades norte-americanas a apreciar, até ao outono, os controversos filmes do falecido cineasta português João César Monteiro, naquela que é a primeira retrospectiva da sua obra nos Estados Unidos.<br />
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Florence Almozini, directora de programação da cinemateca da Brooklyn Academy of Music (BAM), em Nova Iorque, é uma admiradora confessa de Monteiro e planeava há anos mostrar as suas longas-metragens nos Estados Unidos.

"Fizemos uma retrospectiva de cinema português relativamente grande há 9 anos e planeávamos incluir filmes de Monteiro. Infelizmente, os detentores dos direitos na altura não permitiram e tivemos que cancelar as projecções. Foi incomodativo, uma desilusão. Desde então estivemos à espera de uma mudança da situação dos direitos destes filmes", afirmou Almonzini.

"Monteiro é muito valorizado entre os programadores [de cinema]. Sou uma grande fã dos filmes dele e isto é algo que queria fazer há muitos anos", disse à Lusa.

A retrospectiva é organizada pelo BAM, por onde passaram também recentemente os filmes de Manuel de Oliveira, em conjunto com o arquivo cinematográfico da Universidade de Harvard, que será responsável pela digressão nas cidades de Boston, onde coincide com o festival português local, São Francisco, Seattle, Los Angeles, Cincinnati e Washington DC.

"Poeta Perverso: João César Monteiro" começa a 28 de Abril com "Silvestre" (1982) e termina a 19 de Maio com "" Flor do Mar" (1986), com todas as 10 longas metragens de Monteiro de permeio - "Recordações da Casa Amarela", "A Comédia de Deus", "Branca de Neve" e "Vai e Vem", rodado quando o cineasta se debatia já com a doença que haveria de causar a sua morte, em 2003.

Num país onde cinema é sinónimo mais de simples entretenimento do que de manifestação artística, há um risco acrescido em mostrar filmes de um cineasta com uma abordagem intelectual e avessa às regras do cinema tradicional.

Tornou-se polémico há uma década em Portugal o caso da tela negra de "Branca de Neve", com textos do escritor suíço Robert Walser.

A directora de programação do BAM antecipa uma reacção extrema da crítica, "da admiração e elogios até à completa rejeição", mas considera haver público para os filmes de Monteiro.

"Monteiro nunca será um nome reconhecido nos lares norte-americanos, mas acho que os seus filmes vão ser bem recebidos pelos cinéfilos mais radicais e pelos críticos mais expansivos", afirmou.

"Vi em França muitos dos filmes dele quando foram lançados e eram sempre altamente atraentes para um núcleo de espectadores", adiantou Florence Almozini.

Haden Guest, diretor do Harvard Film Archive, disse à Lusa estar "entusiasmado com esta nova exposição de um dos mais inovadores e originais cineastas portugueses contemporâneos".

"Os filmes dele são altamente enigmáticos e provocadores e é preciso que sejam vistos e debatidos por públicos em locais seleccionados como o BAM. Ele reinventa e muitas vezes subverte as tradições da arte cinematográfica europeia", disse Guest.

O sucesso em festivais de cinema norte-americanos de outras obras "radicais" como "Trash Humpers", de Harmony Korine, ou "Inland Empire", de David Lynch, é um bom prenúncio para os filmes do cineasta português.

"Espero que alguns críticos norte-americanos descubram os filmes de Monteiro no seu lirismo, beleza formal e humor excêntrico", afirmou.

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